Leia antes de Baixar

Estamos hospedando nossos arquivos no 4shared, caso tenha alguma dificuldade para fazer o download é por que o 4shared só libera o download se o usuário fizer login, então é só fazer o login com algum e-mail, conta de facebook ou twitter, então o download será liberado.

15 de agosto de 2011

Memórias e histórias de Benedito do Rojão: suas primeiras influências musicais


Foto: artelocalcg.blogspot.com
Texto: retalhoshistoricos.blogspot.com

João Benedito Marques ficou mais conhecido como Benedito do Rojão por sua maestria em compor, elaborar arranjos, tocar e interpretar alguns ritmos musicais por vezes denominados de regionais, como o coco e o rojão.
Gravou quatro CDs, bastante conhecidos e reconhecidos. Ganhou prêmios e o título de mestre das artes na Paraíba por suas músicas, todas registradas em primeira etapa em um gravador japonês que segundo o próprio Benedito tem uma vantagem em relação aos outros tipo fita K7 pois "não se bitona" (ou como poderíamos dizer mais ou menos tecnicamente, não varia o volume do áudio).
Como ele próprio reconhece, a música sempre fez parte de sua vida e não poderia se imaginar sem ela.
Procuramos então desvendar quais foram as primeiras influências musicais de Benedito e nesse percurso descobrimos algumas questões interessantes e mesmo talvez inusitadas.
Contamos para elaborar essa breve narrativa com o auxílio único da memória de Benedito. Nesse sentido, e sob o ponto de vista de alguns conceitos acadêmicos, estaríamos fazendo uma "História de Vida", gênero de produção historiográfica baseado na elaboração de uma narrativa por parte de um pesquisador que por sua vez baseou-se nos depoimentos orais da pessoa que também é objeto de estudo. Difere da "autobiografia" e da "biografia", pois na primeira a pessoa escreve sobre sua própria vida, e na segunda um pesquisador faz uma investigação em diversas fontes (podendo inclusive fazer uso de depoimentos orais) para desvendar a história de determinado indivíduo. No caso da "história de vida", além da história propriamente dita, o que interessa é a versão dada pelo indivíduo sobre si próprio. Uma "história de vida" em segundo momento pode se tornar uma "biografia" e, nesse caso, mesmo quando a biografia contesta muito do que foi escrito na história de vida, não podemos necessariamente afirmar que houve erro. Então é certo dizer que procuramos fazer uma história de "Benedito por ele mesmo".
Nascido em 1938, num lugar denominado fazenda Juá, próximo ao distrito de Catolé de Boa Vista (em postagem publicada no dia 28 de abril incluimos um mapa e indicamos nele essa localidade), hoje de Campina Grande/PB, Benedito não teve acesso na infância a meios de produção e circulação artísticos-culturais fornecidos pelo Estado como teatros, cinemas, praças com coretos, bibliotecas ou outras. Não era época do rádio, pois o mesmo só chegou em Campina Grande e região a partir de 1948. Também não haviam muitas festas por onde nasceu. Assim, a possibilidade pelo contexto de adquirir conhecimentos e técnicas artísticas parecia ser inexistente.
Entretanto, Benedito filho é filho do Benedito pai, e isso fez uma grande diferença em sua vida.
Benedito, o pai, tem o sobrenome Eleotério. Natural de Goiana, Pernambuco, depois de muitas andanças e mudanças, veio parar na Paraíba, mais exatamente entre Alagoinha, então distrito de Guarabira, e Alagoa Grande; isso possivelmente ainda na década de 20 do século passado. Consigo trouxe uma série de influências, entre elas o coco. Ainda muito jovem já cantava e tocava, além de saber confeccionar alguns instrumentos.
A mãe de Benedito, o filho, era Regina Maria da Conceição, natural de Alagoa Grande. Benedito nos afirmou que a mãe aprendeu a tocar com seu pai, mas acreditamos que possivelmente ela teve contato com o coco e outros ritmos musicias desde jovem, na sua cidade, pois Alagoa Grande possui tradição no que diz respeito a música. Como exemplo, lembramos que desde tempos imemoriais as comunidades quilombolas e suas remanescentes, de Alagoa Grande, possuem uma rica tradição nas músicas e danças, como o próprio coco e a ciranda. Além disso, uma célebre pessoa de nome Flora Mourão (mãe do futuro Jackson do Pandeiro), por essas épocas animava festas na zona urbana mas principalmente nos sítios, tocando e cantando coco.
Esse era um pouco, muito pouco, do contexto vivido na época em que Regina se casou com Benedito Eleotério.
Dessa união entre Benedito, o pai, e Regina, além de uma família, também nasceu uma roda de coco, ou um coco-de-roda como melhor ficar. Segundo Benedito do Rojão:

“foi daí que fizeram um conjunto, fizeram um conjunto de coco ai cantava pai, minha mãe, meus tios, meus tios, meu avô que era de Alagoinha, o pai da minha mãe né, meu avô, minha avó. Nesse tempo era um povo novo mais ou menos nesse tempo. Eu não que eu num tinham nem parença de ser vivo.”

Entre os instrumentos dessa roda-de-coco podemos citar a zabumba, triângulo, caixa, ganzá e pife (ou pífano).
Depois de certo tempo, possivelmente no transcurso da década de 30 do século XX, praticamente toda a família muda-se para a fazenda Juá, em Catolé de Boa Vista. Continuam com a prática do coco-de-roda. Benedito Eleotério continuava sendo o mestre da roda.
Desde bebê Benedito do Rojão acompanhava, nos braços dos pais e outros familiares, os sons e passos do coco. Com o tempo passou a tocar caracaxá, que é uma espécie de chocalho. Suas primeiras lembranças dessa roda de coco remontam possivelmente aos seus nove ou dez anos de idade, quando brincava solto entre as inúmeras pessoas que aglomeravam e se entrelaçavam participando da brincadeira de coco, como era conhecida na época.
Das músicas cantadas na roda de coco dos seus familiares, Benedito se lembra de algumas.
Depois de uma longa noite de festejos, quando o sol começava a nascer, normalmente o coco-de-roda terminava assim:

“Ô dia, ô dia, ô dia ô dio dei. Quebra a barra e nasce o sol, deixa o dia amanhecer. Ô dia, ô dia, ô dia ô dio dei. Quebra a barra e nasce o sol, deixa o dia amanhecer.” Isso era um coco que eles cantavam. Quando tava perto de amanhecer o dia ai pai dizia: “Eu vou cantar a derradeira. Que eu vou me imbora tirar o leite e vocês fica ai. Eu vou cantar.” Ai ele cantava esse coco.”

Um pouco de tudo isso, com um pouco de tudo o mais, foi assimilado por Benedito do Rojão. Um pouco de tudo isso chegou até nós por meio de sua memória.
Muitas outras influências esperavam Benedito ao longo do seu trajeto de vida, mas já estavam dados os primeiros passos...

Nenhum comentário:

Postar um comentário