João Gonçalves é o autor do grande sucesso imortalizado por Genival Lacerda. São dele também inúmeras outras canções de duplo sentido, que já o fizeram passar por apertos.
José Teles
teles@jc.com.br
O campinense João Gonçalves é um dos pioneiros do forró de duplo sentido. No início dos anos 70, ele emplacou uma série de estrondosos sucessos nacionais, entre os quais Severina Xique-Xique, Mata o véio, A filha de Mané Bento (estas na voz de Genival Lacerda). Como cantor, João estourou, em 1973, com Pescaria em Boqueirão, do impagável refrão: "Ô lapa de minhoca/ Eita que minhocão/ Com uma minhoca dessas/ Se pega até tubarão". "Naquele tempo não se fazia a contagem de vendas como acontece hoje em dia. Sei que só com esta música vendi muito mais de cem mil discos, isto pelas contas da gravadora," diz Gonçalves, que lançou uma dúzia de LPs, por gravadoras de São Paulo, a maior parte pela Tapecar.
Suas músicas foram gravadas por muitos artistas, tocaram bastante no rádio, ele ganhou dinheiro, mas não levava vida mansa. Sua carreira transcorreu durante o período mais barra-pesada da ditadura militar. João Gonçalves tornou-se visitante contumaz das dependências da Polícia Federal: "Eu praticamente fui proibido de trabalhar na Paraíba, pelo doutor Clóvis (não lembra mais o sobrenome) da Polícia Federal. Fui preso duas vezes, uma em João Pessoa, e outra em Cajazeiras", conta Gonçalves.
A implicância do policial era contra Pescaria em Boqueirão. Nesta prisão em Cajazeiras, ele lembra que nem ousou cantar a música, porque soube que o "doutor Clóvis" estava na cidade: "A banda só tocou. Quem cantou a música inteirinha foi o público", diz João. Mas não adiantou. O arbitrário policial alegou que já havia avisado que ele não poderia cantar "A minhoca" (como o forró ficou conhecido) em território paraibano.
Mas João não sofria apenas a prepotência da polícia, foi também um dos compositores da época mais perseguidos pela censura (e isto não está nos livros que registram este período mais infeliz da nossa história): "Eu mandava 40, 30 músicas para fazer um LP com 12 faixas. O pessoal da censura via o nome João Gonçalves e já ia cortando as músicas. Por causa daquela que diz 'o bode comendo acaba', a polícia tocou fogo em 3,6 mil cópias do meu disco. Estas bandas de hoje, fosse naquele tempo nem gravavam", comenta o forrozeiro, cujas letras, se comparadas com as de bandas como Saia Rodada ou Cavaleiros do Forró, são inocentes trocadilhos infantis.
Apesar de todo o sucesso no passado, João Gonçalves não tem um único show agendado este período junino, nem mesmo nos palcos "culturais" (onde segregam os trios pé-de-serra) do forrozão de Campina Grande. Aos 71 anos, ele sofre da coluna, mas ainda faria shows, se houvesse espaço para o forró tradicional: "Em nenhuma destas grandes festas ninguém quer mais cantor solo. Só querem as bandas, que fazem um show à parte, mas as letras são horríveis. Eu faço o duplo sentido com classe. Deixo uma expectativa em quem está ouvindo, não uso o palavrão. Naquilo que faço tem cultura, as bandas é só a pornografia. Este pessoal da prefeitura faz umas histórias, aquelas palhaçadas, botam um trenzinho, umas casinhas com um trio de forró, e pagam uma mixaria. Dinheiro mesmo é para as bandas. Estou fora do São João", critica Gonçalves.
Embora grave esporadicamente, tenha seus discos fora de catálogo, João Gonçalves continua sendo uma lenda entre os forrozeiros e, pela temática de suas composições, constantemente procurado pelos empresários das bandas: "Do jeito que eles querem eu não faço não. Eles gravam as antigas. Catuaba com Amendoim gravou Mariá, Severina Xique-Xique. Tem até uma música que eu fiz para Tom Oliveira que a Aviões do Forró gravou, Locadora de mulher, mas não é de letra pesada, é só engraçada (cantarola o refrão): 'Eu descobri uma locadora de mulher/ Lá tem mulher do tipo que o homem quiser'".
João Gonçalves mora numa casa modesta, no distante bairro do Cruzeiro, na periferia de Campina Grande. Mas não se queixa. Reconhece que gastou sem pensar quando ganhava muito dinheiro com discos, shows e direitos autorais, "Ainda componho. Genival Lacerda e outros artistas de forró gravam minhas músicas, mas direito autorais recebo muito pouco. A pirataria não deixa cantor nenhum ganhar dinheiro".
Fonte: nordesteweb
José Teles
teles@jc.com.br
O campinense João Gonçalves é um dos pioneiros do forró de duplo sentido. No início dos anos 70, ele emplacou uma série de estrondosos sucessos nacionais, entre os quais Severina Xique-Xique, Mata o véio, A filha de Mané Bento (estas na voz de Genival Lacerda). Como cantor, João estourou, em 1973, com Pescaria em Boqueirão, do impagável refrão: "Ô lapa de minhoca/ Eita que minhocão/ Com uma minhoca dessas/ Se pega até tubarão". "Naquele tempo não se fazia a contagem de vendas como acontece hoje em dia. Sei que só com esta música vendi muito mais de cem mil discos, isto pelas contas da gravadora," diz Gonçalves, que lançou uma dúzia de LPs, por gravadoras de São Paulo, a maior parte pela Tapecar.
Suas músicas foram gravadas por muitos artistas, tocaram bastante no rádio, ele ganhou dinheiro, mas não levava vida mansa. Sua carreira transcorreu durante o período mais barra-pesada da ditadura militar. João Gonçalves tornou-se visitante contumaz das dependências da Polícia Federal: "Eu praticamente fui proibido de trabalhar na Paraíba, pelo doutor Clóvis (não lembra mais o sobrenome) da Polícia Federal. Fui preso duas vezes, uma em João Pessoa, e outra em Cajazeiras", conta Gonçalves.
A implicância do policial era contra Pescaria em Boqueirão. Nesta prisão em Cajazeiras, ele lembra que nem ousou cantar a música, porque soube que o "doutor Clóvis" estava na cidade: "A banda só tocou. Quem cantou a música inteirinha foi o público", diz João. Mas não adiantou. O arbitrário policial alegou que já havia avisado que ele não poderia cantar "A minhoca" (como o forró ficou conhecido) em território paraibano.
Mas João não sofria apenas a prepotência da polícia, foi também um dos compositores da época mais perseguidos pela censura (e isto não está nos livros que registram este período mais infeliz da nossa história): "Eu mandava 40, 30 músicas para fazer um LP com 12 faixas. O pessoal da censura via o nome João Gonçalves e já ia cortando as músicas. Por causa daquela que diz 'o bode comendo acaba', a polícia tocou fogo em 3,6 mil cópias do meu disco. Estas bandas de hoje, fosse naquele tempo nem gravavam", comenta o forrozeiro, cujas letras, se comparadas com as de bandas como Saia Rodada ou Cavaleiros do Forró, são inocentes trocadilhos infantis.
Apesar de todo o sucesso no passado, João Gonçalves não tem um único show agendado este período junino, nem mesmo nos palcos "culturais" (onde segregam os trios pé-de-serra) do forrozão de Campina Grande. Aos 71 anos, ele sofre da coluna, mas ainda faria shows, se houvesse espaço para o forró tradicional: "Em nenhuma destas grandes festas ninguém quer mais cantor solo. Só querem as bandas, que fazem um show à parte, mas as letras são horríveis. Eu faço o duplo sentido com classe. Deixo uma expectativa em quem está ouvindo, não uso o palavrão. Naquilo que faço tem cultura, as bandas é só a pornografia. Este pessoal da prefeitura faz umas histórias, aquelas palhaçadas, botam um trenzinho, umas casinhas com um trio de forró, e pagam uma mixaria. Dinheiro mesmo é para as bandas. Estou fora do São João", critica Gonçalves.
Embora grave esporadicamente, tenha seus discos fora de catálogo, João Gonçalves continua sendo uma lenda entre os forrozeiros e, pela temática de suas composições, constantemente procurado pelos empresários das bandas: "Do jeito que eles querem eu não faço não. Eles gravam as antigas. Catuaba com Amendoim gravou Mariá, Severina Xique-Xique. Tem até uma música que eu fiz para Tom Oliveira que a Aviões do Forró gravou, Locadora de mulher, mas não é de letra pesada, é só engraçada (cantarola o refrão): 'Eu descobri uma locadora de mulher/ Lá tem mulher do tipo que o homem quiser'".
João Gonçalves mora numa casa modesta, no distante bairro do Cruzeiro, na periferia de Campina Grande. Mas não se queixa. Reconhece que gastou sem pensar quando ganhava muito dinheiro com discos, shows e direitos autorais, "Ainda componho. Genival Lacerda e outros artistas de forró gravam minhas músicas, mas direito autorais recebo muito pouco. A pirataria não deixa cantor nenhum ganhar dinheiro".
Fonte: nordesteweb
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